Lisboa by Night

Depois de uma tarde passada a trocar intimidades com o Manual de Direito Internacional Público, fui tomar um café á noite com a Rita, o Marco e o Pedro. A conversa foi bastante interessante e acabou por ditar o resto da nossa madrugada.

Resolvemos ir averiguar o que tantas pessoas relatavam, mas sobre o qual tinhamos muitas dúvidas. Levados por um voyeurismo puro, dirigimo-nos à Cidade Universitária, mais precisamente aos parques de estacionamento das faculdades aí sediadas. Constava-se que, durante a noite, o lugar em questão era muito frequentado por pessoas do sexo masculino em busca de prazer fácil com pessoas também do sexo masculino.

Confesso que não foi com muito espanto que constatei que a maioria dos carros era Mercedes ou BMW (ok, também lá estavam uns quantos Corsas, peço desculpa). Sim, porque aquilo parecia a 2ª Circular ao fim do dia, tal era o congestionamento!

Muitos dos homens que por lá andavam pareciam ser frequentadores assíduos, pois seguiam todo um ritual previamente determinado: Depois de entrarem no dito parque, procuravam estacionar perto de algum carro que já lá se encontrasse; de seguida incidiam os máximos contra esse carro para poderem observar o presumível parceiro sexual; se fosse do seu agrado, ou estacionava mais perto (e partia logo para o reconhecimento) ou então ligava os quatro piscas, como que a convidar. Aí a bola ficava do lado do outro condutor, que poderia aceitar o convite ( e seguir o outro carro, até encontrarem um local mais recatado), ou então simplesmente ir embora, á procura de outro futuro parceiro.

Muitos foram os carros que nos fizeram esta abordagem tão cheia de técnica e sinais especiais, e muitas também foram as nossas risadas por ver a cara desanimada do condutor, ao perceber que não estávamos ali para aquelas andanças.

Mais tarde passámos pela zona do Conde Redondo, muito conhecida pelos bares de strip, pelos taxistas/passadores de droga e pelas prostitutas transsexuais (mas não operadas, porque o que os clientes masculinos queriam era homens, mas com mamas artificiais - talvez para não deixarem de se sentir tão machos, não sei...). Algumas das mulheres/homens que por lá desfilavam no alto dos seus saltos agulha de 10 cm eram lindíssimas, com umas pernas bem torneadas e uma postura elegante. O exercício é muito, e as 4 ou 5 pílulas ingeridas por dia também ajudam...

Aqui o que mais me angustiou foi ver rapazes de 14/15 anos também á procura de clientes, com grandes casacos de cabedal (estão a ver como o Síndrome do Casaco se confirma?? Peço desculpa, estava a tentar desanuviar o ambiente), com os quais tentavam esconder a constituição de adolescente. Custa-me perceber a cabeça deturpada dos 'homens' que conseguem obter prazer com miudos, que provavelmente usam o dinheiro que recebem para pôr comida em casa, já que o pai está preso ou desapareceu e o que a mãe ganha não chega. Custa-me pensar que, provavelmente, daqui a alguns anos terei um filho adolescente...

Já devidamente apetrechados com comida (para forrar o estômago para o murro seguinte), voltámos mais uma vez á Cidade Universitária para nos despedirmos dos "transeuntes". Dada a hora, o movimento já tinha aumentado e as propostas multiplicavam-se. Velhos de cabelos brancos, homens de cabelos grisalhos, rapazes de cabelos espetados, todos á procura do mesmo. Solteiros, casados, homens de negócios com Barbies em casa (pensando que os maridos tinham ficado a trabalhar até tarde), todos á procura de prazer, a tentar fugir á solidão? Para no dia seguinte voltarem ás suas vidas e ás suas posturas de macho...Todos á procura de uma coisa diferente.

Foi uma noite em que precisei muito de um saquinho para o vómito, mas ao mesmo tempo uma noite que me abriu os olhos para muita coisa.

Um bem-haja a tanto suminho sociológico.

*ritinha*