Voltámos!!!
Faz hoje exactamente uma semana que as meninas deste bairro e a "menina má" voltaram do tão falado e desejado interail! Penso, por isso, que se impõe assinalar os factos mais marcantes desta nossa aventura para a posteridade!
Acho que falo por todas quando digo que o cansaço físico, os longos quilómetros percorridos (a pé e de comboio), a fome, as noites mal dormidas, os ratos, as nossas companheiras de quarto orientais que insistem em ser badalhocas e as norte-americanas que insistem em falar de maneira parva e intrometida, os franceses e os italianos mal-educados... tudo agora parece pequeno face às coisas boas que nos aconteceram, aos locais que tivemos o privilégio de pisar e ficar maravilhadas, porque tudo faz parte da aventura!!! Nunca vou esquecer!!!
É impossível conseguir relatar tudo por escrito, uma vez que a intensidade destes 16 dias valeu por quase um mês - e há coisas que só têm piada quando contadas, como, por exemplo, os trejeitos do nosso amigo Joe da Coffeeshop em Amsterdão! Quem diria que seríamos tão bem recebidas por ele ("Hello ladies!!!"), com direito à sua presença nas nossas fotos e tudo?! Foi brutal!!!
Presas no elevador da Torre Eiffel - após uma hora à chuva na fila, sem comida em Bruxelas (porque a pousada só servia pequeno-almoço, tudo o que era supermercado naquela cidade fechava às 3 da tarde e às 21:30 as cozinhas dos restaurantes já se preparavam para fechar) - convivendo com ratos em Amsterdão e sobrevivendo ao frio do Luxemburgo, tudo foi amaciado com o nosso sentido de humor e, assim, tornado memorável!!! Uma história digna de ser contada aos netos!!!
A música também foi uma constante na nossa viagem: se em Montmartre fomos presenteadas com Edith Piaf tocada em harpa, já em Bruxelas podemos escutar logo pela manhã "Brussels, there was the time of the silence" na varanda, através de uma senhora extremamente perturbada, enquanto fazia bolinhas de sabão - e que se entretia a esconder pão dentro da sua mala ao pequeno-almoço. Também em Antuérpia pudemos constatar que a noite começa a bombar logo às 11:30 da manhã, pelo menos ao domingo, com bares cheios de gente, canecas de cerveja por todo o lado e música em altos berros! É verdade, juro, nós vimos!!! Já em Amsterdão fomos presenteadas, logo na primeira noite,com um concerto dos "Três Tenores" (ou "Ressonanço em Dó Maior") na nossa querida, limpa e cheirosa camarata de 18 camas! Huuummmm... Tentador, hein?! Escusado será dizer que nessa noite ninguém dormiu nada de jeito! Bom, talvez a "menina má" tenha dormido, pois onde quer que ela possa encostar a sua cabecinha, é tiro e queda que adormeça (by the way, odeio-te por isso! :p era só olhar para ti no comboio que lá estavas tu ferrada a dormir!)... No Luxemburgo a música foi outra! Para além de um concerto de quatro saxofones bem giro e de borla, no meio da rua, a limpeza das ruas e dos edifícios deixou-nos impressionadas! A pequenez da cidade também nos impressionou e muito, já que entrámos duas vezes na mesma igreja, sendo que a segunda vez ocorreu sem darmos por isso, após uma volta completa ao centro histórico da cidade... Sem dúvida a melhor pousada, com direito a encontros com uma emigrante portuguesa (que relatou em voz alta os seus amores e desamores com um italiano, ainda confidenciando "logo à noite vou sair com um gajo!"), com melhores condições e menos confusão - apesar da estupidez dos duches... Será que nunca lhes passou pela cabeça que o chão ia ficar logo alagado em menos de nada??? -, sempre com comida e com a melhor e mais simpática companheira de quarto, a nossa alemã Francis!
A chuva e o frio também insistiram em fazer-nos companhia durante toda a viagem, atingindo o seu expoente máximo na última semana! Em Bruges tínhamos de procurar um toldo de 5 em 5 minutos para nos abrigarmos, em Amsterdão não saíamos sem os nossos casacos/sweats com carapuço e decidimos comprar écharpes para tapar o pescoço, no Luxemburgo até o queixo batia... Sim, tenho a certeza que estávamos em Agosto, juro!!! Os nossos pais só diziam que os 40 graus que se faziam sentir por cá estavam insuportáveis, enquanto nós morríamos de frio, tentando sobreviver com tops e t-shirts... Acho que nenhuma de nós quer relembrar a trovoada e a forte chuvada com que nos despedimos de Amsterdão, a que se seguiram 6 horas de comboio até ao Luxemburgo com as mochilas encharcadas e os casacos/calças a pingar... Enfim, somos umas mártires!!! E ninguém se constipou!!!
É natural que me esteja a esquecer de qualquer coisa, por isso meninas dêem-me uma ajudinha a acrescentar o que por agora me escapa, sim? Em jeito de resumo, é talvez de referir que a grande desilusão foi Bruxelas - uma capital europeia que, fora do centro histórico, mais parece uma cidade fantasma em pleno Verão, com meia dúzia de carros a circular e com duas ou três pessoas nas ruas; o seu monumento mais emblemático - o Manneken Pis, aka "o puto que mija" - é de uma pequenez ridícula, amontoando dezenas de turistas e locais ao seu redor (como, por exemplo, uma estúpida de uma belga balofa que, não podendo perder a sua foto junto à "criança que urina" no cantinho da praça, veio a correr directa à minha cara, chocando brutalmente comigo e continuando a correr logo à seguir, o que me deixou com dores de cabeça o resto da tarde)! Como se não bastasse a sua pequenez e a sua história insólita, houve quem achasse que estar ali a fazer chichi não era parvo o suficente, por isso decidiram fazer roupinhas para a criança - obviamente que todas possuem um pequeno orifício ao nível do pénis, não vá a criança ficar molhada! Existem já mais de 300 fatinhos, entre os quais um de Pai Natal! É verdade, nós vimos as fotos nas lojas! A "menina má" desenvolveu a sua própria teoria acerca de quem costurará os fatinhos, e devo confessar que merece algum crédito! Ritinha, convido-te a expô-la aqui no Bairro! ;)
A maior surpresa foi Amsterdão, que nos proporcionou grandes momentos (estando nós sóbrias ou nem por isso :p)!!! Esta cidade sim é "super cosmopolitan"!! :p Apesar da chuva e do frio, a sua beleza rara corporizada nos canais, na arquitectura única, nas bicicletas - o principal meio de transporte em detrimento do automóvel, nos barcos transformados em casas, na imensa diversidade cultural, na superioridade do seu nível de civilização - que lhes permite a tolerância e o respeito para com as drogas leves e a prostituição, porque são actividades legalizadas e com lugares específicos de utilização/desempenho - tudo isto faz de Amsterdão um lugar único no mundo e digno de voltar a ser visitado! Não é chocante, é surpreendente!! E é depois de se estar em Amsterdão que percebemos como seria difícil importar essa cultura para um país de tão brandos costumes como Portugal... Não deixa de ser idiossincrático ver numa coffeeshop um cartaz que tem escrito "Stop hard drugs"...
Não poderia acabar este post, que já vai bem longo (peço desculpa) sem referir os Jefes! Jefes Hugo, João e Alexandre, que conhecemos logo à partida no comboio em Lisboa e que tiveram o azar de nos ajudar com as mochilas, iniciando aí a mais terrífica viagem das suas vidas! A partir de então a vida deles nunca mais foi a mesma, pois conheceram as piores 12 horas de existência de que tinham memória: estar connosco no mesmo espaço, tendo em conta que esse espaço era fechado e sem escapatória possível... Bem, talvez a casa-de-banho do comboio desse para se esconderem, mas não aguentavam lá muito tempo!! Fazendo jus à nossa fama de "pestes insuportávies", nunca nos calámos nem os deixámos dormir, já para não dizer que escarrapachámos ali as nossas vidinhas todas para quem quisesse ouvir! Foi um prazer conhecer-vos, vocês são brutais!! Obrigado por terem tornado Amsterdão ainda mais espectacular - apesar da fominha e da pousada - e, acima de tudo, por nos terem aturado e ainda terem a coragem de dizer que somos fixes!!
*matuxa* (aka la reine-lune)